Como começou a ideia do site e de cursos

Há tempos tenho sentido a vontade e a necessidade de dividir a minha vivência e minha experiência com as pessoas interessadas nos temas: inclusão, saúde do idoso, terapia ocupacional e tudo relacionado à assistência à pessoa com deficiência.

Passei, no final do ano passado, um episódio com minha mãe que me deixou muito preocupada com a conduta adotada por profissionais que, por desconhecimeto, excesso de trabalho ou outras razões, digamos que poderia ser mais eficaz.

Fiz, então, algumas postagens no Facebook. Daí, foi quase que automática a ideia da criação deste meio no intuito de ajudar cuidadores profissionais e amadores a trazer melhor qualidade no atendimento a seus pacientes e familiares.

Segue, então, o texto que escrevi em desabafo. Espero que tenha sido a primeira de algumas ferramentas de auxílio a quem precisar ou quiser um pouco mais de informações sobre o cuidado adequado e personalizado de pacientes.

 

26 DE NOVEMBRO DE 2021

Amanhã completará quatro dias no hospital. Minha mãe volta com colete, medicação para dor, cuidados, mas liberada para as atividades de vida diária. Como tenho a característica de refletir, analisar os fatos para aprender, e lógico, melhorar como pessoa e como profissional, compartilho aqui, minhas observações:

# se alguém que tiver mais que 80 anos é mais que preferencial; a meu ver, deveria ser mais que especial. Pois tem muitas coisas para contar dos anos vividos, coisas conquistadas!

Mesmo minha mãe parecer que tem 68 ou 73 (as idades que deram para ela no hospital), nos dados no prontuário tem a data de nascimento e a idade. Então, deveria ter tido tratamento especial: não ficar o dia todo em jejum para fazer exame; priorizar o exame para que as coisas sejam definidas o mais rápido possível (idoso em ambiente hospitalar é muito prejudicial para saúde física, emocional e principalmente, cognitiva!!!

Desta maneira, sugiro que o tratamento de idosos hospitalizado seja especial, priorizado e preferencial!!!

# NUNCA se deve usar o diminutivo para fazer referência a qualquer coisa relacionado ao idoso, especialmente as partes do corpo. É um corpo que trabalhou muito, sentiu inúmeras sensação… é um corpo de respeito, pela sua trajetória, não pela matéria!!!!

# É bom sempre lembrar que para falar com idoso, temos que estar próximo, olhando para ele, falar devagar, e a voz com um tom mais alto!!! Assim, o idoso ouvirá, entenderá e conseguirá se comunicar e relacionar, o que é extremamente importante para ele!!!

# o idoso DEVERIA ter direito garantido de o acompanhante permanecer ao seu lado em todos os lugares e Setores que transitar dentro do Hospital!!! Lembre-se tratamento especial… porque não dizer VIP!!!

# para mim, como profissional da área da saúde, ficou ainda mais consolidado algumas coisas que eu já tinha atenção:

* todos os procedimentos que devem ser realizados, podem ser rotineiros, corriqueiros para nós, mas o outro, identificado “paciente”, não o é, e nem tem que ser! Então, sempre e a todo momento e com todos os atendimentos, DEVEMOS ser cuidadosos, respeitosos, empáticos, amorosos, mas acima de tudo, HUMANOS!!! Essas palavras que devem estar em todos os juramentos dos profissionais de Saúde!!!!

* esperar… momentos difíceis!!! Esperar para ser atendido, para ser internado, para realizar os exames, o médico passar, o médico dizer alguma coisa, o médico dar alta. Esperar a passagem de plantão, a roupa chegar, o remédio vir… a realização de um banho que lava tudo, até o sofrimento!!!!

Esse é um grande exercício que o “paciente” obrigatoriamente, sem direito de reivindicar, senão é carimbado de chato, tem que aprender a conjugar!!!! Esperar…

# e por último, não menos importante, chame o “paciente” pelo nome, pela sua identidade, pois é um cidadão, é um Ser Humano!!! É mesmo que vc trabalhe com várias pessoas, e se é seu nome que está como responsável pela internação da pessoa que necessita, especificamente do seu parecer, sua definição em relação ao que vai acontecer com ela nas próximas horas, dias, meses ou anos; dá o prazer a ela de te ver, de ouvir vc dizer alguma coisa, nem mesmo um “Melhoras”!!!!

 27 DE NOVEMBRO DE 2021

Estamos aguardando para ir para casa!!!! E após ler todas os comentários que complementaram e endossaram as minhas reflexões (e agradeço cada um por tudo que foi acrescentado e as manifestações de recuperação para minha mãe), tenho que esclarecer e tornar público que o meu desabafo não é mérito meu. Tudo o que eu escrevi foi como fui treinada e aprendi no Hospital Sarah, onde trabalhei 24 anos. Sou grata por ter tido a oportunidade de trabalhar nesta Instituição e com profissionais HUMANOS, e comprometido com o “cuidado” das pessoas que por passam. Independente da condição social, o tratamento é igualitário e digno. Honro cada funcionário, desde os que estão no portão de entrada, pois TODOS são profissionais competentes no que fazem. Não poderia deixar de mencionar o responsável por esse grande feito que em honro é que tenho grande admiração e gratidão, por tudo que fez à população brasileira, tanto aos profissionais que embarcaram junto nesse barco (“Remando contra a maré”), quanto as pessoas que passaram por uma das Unidades da Rede Sarah – Dr. Aloísio Campos da Paz Júnior – Dr. Campos. Foi na “batuta” dele, homem visionário e sempre com o olhar no futuro, que muitas pessoas foram e continuam beneficiadas com tratamento digno e de qualidade. O Brasil precisa, urgentemente, de homens com a visão, a inteligência e a entrega ao bem da população brasileira. No Sarah, sob o comando dele, aprendi o que sei e o que sou hoje!!! Com o solo preparado pelo meu pai e minha mãe, pude fazer com que os princípios e a filosofia da Instituição se impregnassem em mim.

Por isso, não seria correto e justo não mencionar o nome do responsável pelas minhas reflexões, minhas indignações …

Espero que as pessoas não entendam que as coisas que mencionei anteriormente sejam “exigência” minha, ou que eu quero “perfeição”, apesar de serem duas características fortes em mim; além de justiça.

O que escrevi, a meu ver, está relacionado à respeito, cuidado com o outro, em especial aos que devemos nossa vida; à dignidade e merecimento que TODOS nós temos direto, em especial as pessoas que tem muitos anos vividos!!!!

Obrigada todos os colegas do Sarah!!!

Obrigada Dr. CAMPOS!!!

Obrigada Walter Lineu de Paiva e Ione de Carvalho Paiva

Obrigada a todos que concordaram, completaram, e contribuíram de maneira espetacular as minhas reflexões e inquietações!!!!

 28 DE NOVEMBRO DE 2021

Continuação das minhas reflexões e meu desabafo:

# recebemos alta com as seguintes recomendações:

Manter acompanhamento com o médico responsável (que se diga de passagem, não nos deu o prazer de vê-lo, conhecemos os médicos residentes da equipe dele);

Prescrição o uso do colete/cinta; a receita de medicação analgésica; orientação de retorno se surgimento de novos sintomas; orientação manter repouso.

# não vou nem colocar algumas incoerências na receita. Vou apenas mencionar algumas observações:

1- Como podem ver, não tem definido o tipo de colete/cinta. E nem foi orientado e nem treinado como colocar e retirar o colete, nem em que situações serão utilizados;

2- Não foi esclarecido que tipos de sintomas seriam caso de retorno. E nem para onde retornar;

3- Ao mesmo tempo que liberaram para sentar-se, nas recomendações tem: “manter repouso”. Além, a meu ver, um pouco contraditório, fico pensando, como manter de repouso uma pessoa de 91 anos, sendo uma o imobilismo uma das grandes causas de um desfecho insatisfatório (é uma cascata de condições resultando em um desfecho insatisfatório).

4- Recebemos alta sem qualquer orientação de como proceder e realizar os cuidados em casa.

 Me sinto privilegiada por poder suavizar o sofrimento e o estresse da minha mãe, por trabalhar com reabilitação e ter experiência e vivência no manejo e cuidados com pessoas em situação similar à que ela está passando.

Porém, nem toda família tem esse privilégio e nem são obrigadas a ter e saber.

E mesmo eu assumindo muitas coisas do cuidado da mamãe dentro do hospital, e em algumas situações mencionando minha experiência, não foi valorizado, e sim ignorado.

Para sair do hospital, de alta, eu que preparei a mamãe para sentar-se, aos poucos, para colocá-la no banho em cadeira, para não ter lipotimia e desmaiar. Tudo foi feito com muito cuidado – eu fiz a transferência da cama para cadeira higiênica e da cadeira para cama. Tive ajuda de uma técnica da enfermagem, no banho, que foi a mais cuidadosa, mais

atenciosa e simpática dos dias que ficamos lá.

A mamãe pedia “cadê a loirinha”!!!! E era ela.

E acreditem, o chegar em casa, com toda a minha experiência e vivência, não é fácil!! E pior ainda, é ver a fisionomia dela e o sofrimento dela, devido a dor!!!

# Não quero fazer propaganda ou advogar em causa própria, mesmo sendo militante da terapia ocupacional, já está mais do que na hora dos gestores de hospitais providenciarem e contratarem profissionais qualificados para compor a equipe de assistência e, realmente, ter um serviço eficiente e de qualidade. E todos, independente da formação, são necessários e imprescindíveis na formação da equipe.

Porém, não adianta ter os profissionais necessários se não há uma ação integrada, um compartilhamento de saberes que possuem objetivos comuns.

Já que adoro expressões populares, vou utilizar: “uma andorinha só não faz verão”!!!

Se eu não soubesse o quadro da minha mãe, a equipe de enfermagem teria colocado ela para se sentar, virar sem os cuidados, por não terem sido informadas e orientadas, pelo responsável, o que tinha acontecido e o que é como deveria ser feito.

O trabalho de equipe integrado, e, incluindo o “paciente” e a família, é um modelo de assistência comprovada com evidências científicas.

Evoluímos em técnicas cirúrgicas, em medicamentos de última geração, em aparelhos ultramodernos, em condições de fazer o diagnóstico mais rápido e mais preciso, porém no tocante a comunicação e relação profissional, estamos muito longe do possível, o que dirá do ideal.

 Estou muito feliz de ver tantas pessoas enviando mensagens relatando suas experiências e vivências, e concordando com as minhas observações.

Me alivia o coração, pois em alguns momentos o meu EGO aflora e me faz refletir se “eu sou muito exigente”; “se eu quero perfeição”; “se isso é utopia” …. E na verdade, acho que não temos que aceitar as coisas como são, e se contentar com o que é, com essa realidade…

As mensagens recebidas me fortaleceram para continuar expressando as minhas indignações!!!!

GRATIDÃO A TODOS PELAS MENSAGENS RECEBIDAS!!!!🥰😍

29 DE NOVEMBRO DE 2021

Desabafo do dia:

* para não ser muito extenso mais esse desabafo, foi tentar ser sucinta:

Hoje, foi o dia de comprar cadeira higiênica para facilitar no banho. Fui a uma casa de produtos hospitalares antiga de BH. Lembro que quando fazia faculdade já existia essa loja.

O tempo que fiquei dentro da loja, vi e ouvi coisas (o que deve acontecer em todas as cidades e lojas com esses produtos). Não criticando os vendedores, pois eles estão fazendo o trabalho deles. Mas, a Indicação, prescrição e definição de uma cadeira de rodas, cadeira higiênica, andadores …. O que chamamos de tecnologia assistiva deve ser definida junto e sob a orientação de um profissional habilitado e capacitado a isso: fisioterapeuta e terapeuta Ocupacional. Esses dois profissionais são, pelo menos esperamos que sejam capacitados a fazer a Indicação, a prescrição e a configuração de qualquer tecnologia assistiva para os que dela necessita. Em Países desenvolvidos não encontramos vendedores desempenhando essa função, são profissionais da área; pois é muito sério o uso de quaisquer recursos, produtos, equipamentos inadequados.

Então, fica a dica!!! Não compre ou adquira qualquer tecnologia assistiva na mão de pessoas que não estão capacitadas!!!

“O barato pode sair caro.”

 01 DE DEZEMBRO DE 2021

Em Brasília de volta.

Não posso ficar com minha mãe, pois nossa lei trabalhista não se atualizou e nem se modernizou. Para acompanhar pai e mãe somente dois períodos do dia.

A tendência do Brasil, passarmos a viver mais e consequentemente, poderemos viver com sequelas de alguma condição de saúde!!!!

Depois do Covid19 e suas consequências, talvez tenhamos um outro panorama que teremos que aprender.

É muito triste não poder “cuidar” da pessoa que te colocou no mundo!!!

Desculpem os meus desabafos, mas acho que devemos aprender a expressar nossas indignações, e passar a não contentar com pouco e nem achar as coisas normais!!!

 E a vida que segue!!!